Lá vem mais partidos por aí...!
Você brasileiro pode nem saber, mas ajuda a sustentar, com o próprio bolso, a existência de 30
partidos políticos. E a proliferação de legendas, grande parte sem identidade
ideológica clara, parece não ter fim. Atualmente, 23 novas siglas já entregaram à
Justiça Eleitoral parte das 500 000 assinaturas necessárias para obter o registro
e poder disputar eleições. Há ainda um número indefinido de organizações que
não chegaram a essa etapa, mas já se articulam para isso - o mais novo exemplo
é a Rede da ex-senadora Marina Silva.
O caos partidário tem
várias explicações. Uma dela é explícita: mesmo que seja insignificante
eleitoralmente, todo partido tem direito a receber recursos do Fundo Partidário
- abastecido por dinheiro público -, pode exibir gratuitamente pelo menos dez
minutos anuais de propaganda na televisão, tem espaço garantido no horário
eleitoral e ainda pode, graças às coligações, receber recursos de outros
partidos durante o pleito. Tudo amparado pela lei. Além disso, há o poder de
barganha para obter, em troca de apoio ao gestor da vez, cargos no poder
executivo municipal, estadual e federal. Por isso, a criação de partidos nunca
foi tão lucrativa.
Por que criar sua
própria legenda é um bom negócio
A quantidade de votos
não importa: mesmo que fracasse nas urnas, um partido nanico e recém-criado tem
direito a benefícios:
Fundo partidário:
No mínimo 28 000 reais
por mês
Propaganda na TV e no
rádio:
para os sem-voto, são
garantidos cinco minutos por semestre em rede nacional
Propaganda eleitoral:
O tempo de TV durante a
eleição depende da quantidade de candidatos. Mas, normalmente, os nanicos têm
cerca de um minuto diário de propaganda.
Repasses de outros
partidos:
As coligações eleitorais
justificam gordas transferências financeiras, chanceladas pela lei, dos grandes
para os pequenos partidos
O PSL de nosso conterrâneo Luciano Bivar, uma
sigla autodenominada liberal, compõe atualmente a coalização de apoio ao PT no
plano federal - ao lado do PCdoB (comunista), do PSB (socialista), do PP (a
antiga Arena) e do PSC (cristão). Mas Bivar insiste que o apoio é programático:
"Nós nunca nos coligamos em troca de alguma compensação. Não é a nossa
prática", diz ele. O dirigente alega ainda que a vida dos pequenos
partidos não é fácil. Segundo ele, é difícil manter a coesão partidária porque,
a cada eleição, os vencedores se tornam um pólo de atração de bons quadros.
Dentre os 23 partidos
em formação, as siglas bem-intencionadas e com algum bom senso existem: é o
caso do Partido Federalista e do Partido Novo. Mas a maioria apela a propostas
descabidas ou mal elaboradas. Os temas são diversos: o Partido Cristão prega o
“dízimo” do filiado (20% dos rendimentos brutos), o Partido Republicano da
Ordem Social (PROS) proíbe doações financeiras por parte de entidades
estrangeiras ou sindicais. O Partido Progressista Cristão (PPC) promete
enfrentar os governantes "ateístas, comunistas e satanistas". Já o
Partido da Justiça Social (PJS) se preocupa com um novo currículo escolar. Se a
sigla chegar ao poder, estarão no currículo matérias de educação para o
trânsito e de saúde bucal. Asfixiado pela multiplicação de partidos inócuos
sustentados pelo dinheiro público, o eleitor é que não vê tantas razões para
sorrir. Não é mesmo?
Fonte:
http://veja.abril.com.br, acesso em 02 de Março de 2013, às 17h14
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