O que sente quem morre em um acidente ou leva um tiro na testa?
Você,
já imaginou como seria viver esse tipo de pesadelo e ter sua vida encerrada de
forma tão drástica?
Logicamente, não estamos querendo induzir pensamentos suicidas ou interferir em
seu inconsciente, transformando a sua próxima noite de sono em um universo de
pesadelos. A questão aqui, na verdade, é científica mesmo: o que sente a pessoa
que morre em um acidente? Será que ela percebe que está morrendo?
A resposta para isso possivelmente vai deixar muitos intrigados: não percebe,
não sente, não sabe. Basicamente, a pessoa morre sem nem se ligar do que está
acontecendo porque colisões violentas e drásticas não são processadas pelo
cérebro a tempo. Além disso, temos uma questão de ordem cognitiva envolvida, e
é justamente ela que afeta a nossa percepção consciente do que está
acontecendo.
É uma questão de tempo
Quem explica melhor essa questão é o neurocientista e escritor David Eagleman – uma pessoa genial cuja obra você deveria
conhecer, aliás. O que Eagleman nos diz é que leva
um tempinho até que os sinais dos nossos movimentos cheguem à massa cinzenta do
nosso cérebro. Para você ter uma ideia um pouco mais concreta da coisa, pense que esses sinais
viajam cerca de um metro por segundo. Para Eagleman, isso é “insanamente lento” e suficiente para explicar
a afirmação de que “estamos sempre vivendo no passado”.
Em termos comparativos, de acordo com o neurocientista, podemos dizer que nosso sistema motor autônomo reage
mais rapidamente aos estímulos externos do que a nossa consciência.
Para preparar sistemas de segurança modernos, os engenheiros seguem o seguinte
cronograma: depois de 1 milissegundo (ms),
os sensores detectam a colisão e depois de 8,5 ms,
os airbags se abrem. Na marca
dos 15 ms, o carro começa a
absorver o impacto da colisão e os passageiros entram em contato com os airbags aos 17 ms, sendo que a força
máxima da colisão acontece aos 30 ms.
Sabe quando o passageiro percebe que está em um acidente? Entre os 150 e os 300
ms depois da colisão,
apenas.
Um pouquinho sobre as regiões cerebrais
A verdade é que quando o cérebro está gravemente ferido, a consciência
simplesmente não funciona. As principais regiões do cérebro são o córtex
frontal, responsável pela atenção e a memória de curto prazo; o tálamo, que
regula a consciência e nosso estado de vigília; o giro temporal, que guia nossa
percepção e compreensão; e o hipocampo, que trabalha com a memória e a
percepção espacial. Danos no córtex e no tálamo, por exemplo, podem nos deixar
em coma.
Em contrapartida, se a região afetada é a do cerebelo, conseguimos manter nosso
estado de consciência. Isso nos mostra que nem todo dano cerebral é gravíssimo
e nos deixa inconscientes, ainda que, de acordo com Eagleman, todas as regiões
cerebrais estejam envolvidas com a nossa formação da consciência. Em casos de
traumas muito fortes, como uma pancada violenta provocada por um acidente, o
cérebro entra em pane e a vítima nem percebe o que acabou de acontecer.
E quando a pessoa leva um tiro?
No caso de um tiro na cabeça, a lógica da não percepção vale ainda mais, afinal
a velocidade do projétil é rápida demais, e o estrago que ele provoca é tão
repentino que a vítima simplesmente não percebe o que está acontecendo. A
lógica é simples e assustadora: é só você pensar que se uma batida forte na
cabeça pode provocar tanto estrago, a ruptura de tecidos cerebrais é obviamente
ainda mais grave.
E aí vem a parte mais bizarra: apesar da gravidade que é levar um tiro na
cabeça, um terço das vítimas sobrevive – mas 50% dos sobreviventes ficam vivos
por no máximo 30 dias. Quem consegue viver mesmo depois desses 30 dias
geralmente passa a vida com sequelas cognitivas graves.
Para Eagleman, algumas pessoas
sobrevivem justamente porque os projéteis são relativamente pequenos e viajam
rápido demais – assim, quando o tiro apenas atravessa o crânio, e não o
cérebro, os danos são menores.
Fonte: Mega Curioso
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