Miriam Leitão em sua coluna: "O ódio a bordo"

No dia de hoje, 13 de Junho de 2017 visitei o site da TV Globo por entender que  a maioria das notícias que afetam a nossa população passa por este veículo de comunicação. No entanto, ao contrário de outros dias, dias  em que a TV dos Marinho é alvo de diversas afirmações de que  estaria defendendo  este ou aquele segmento político,  sem se manifestar a respeito, parece que um evento em especial, ocorrido com a jornalista e comentarista de economia Miriam Leitão, no último dia 03 e divulgado apenas no dia de hoje, abriu espaço na própria emissora  e entre os assíduos profissionais da notícia  e os consumidores de seus conteúdos para mais um debate:  Miriam teria sido agredida verbalmente quando voava em um trajeto comercial da Avianca.  Será que   a tão esperada isenção dos jornalistas continua sendo questionada, e levada em conta, quando os mesmos  vão de encontro ao que defendem os partidos e fazem afirmações contundentes sobre a nossa própria realidade? Teriam os delegados das agremiações políticas e seus fiéis adeptos o condão de tornar mentirosa toda afirmação que "atinja" o cerne de questões ligadas a moralidade deste ou daquele figurão  da política? E seria mesmo verdade  a inocência deste ou daquele partido, a despeito das ações em benefício próprio (individual, partidário e/ou eleitoral), das provas cabais de incompetência e crimes praticados em nome da "governabilidade"? Ainda há pessoas tão cegas a ponto  de crerem na redenção de sistemas falidos, pessoas moralmente falidas, partidos  de bases gravemente ameaçadas? Para mim, o resumo da ópera seria o seguinte: SE sua resposta a todas as perguntas acima for sim, você não tem o direito de agredir, xingar, denegrir nem ameaçar quem quer se oponha a sua opinião.  SE sua resposta a todas as perguntas acima for não, você não tem o direito de agredir, xingar, denegrir nem ameaçar quem quer se oponha a sua opinião.  Segue abaixo o relato transcrito da Coluna da jornalista, disponível no endereço,  O ódio a bordo.



Fonte da foto; blogs O Globo



"Sofri um ataque de violência verbal por parte de delegados do PT dentro de um voo. Foram duas horas de gritos, xingamentos, palavras de ordem contra mim e contra a TV Globo. Não eram jovens militantes, eram homens e mulheres representantes partidários. Alguns já em seus cinquenta anos. Fui ameaçada, tive meu nome achincalhado e fui acusada de ter defendido posições que não defendo.
Sábado, 3 de junho, o voo 6237 da Avianca, das19h05, de Brasília para o Santos Dumont, estava no horário. O Congresso do PT em Brasília havia acabado naquela tarde e por isso eles estavam ainda vestidos com camisetas do encontro. Eu tinha ido a Brasília gravar o programa da Globonews.
Antes de chegar ao portão, fui comprar água e ouvi gritos do outro lado. Olhei instintivamente e vi que um grupo me dirigia ofensas. O barulho parou em seguida, e achei que embarcariam em outro voo.
Fui uma das primeiras a entrar no avião e me sentei na 15C. Logo depois eles entraram e começaram as hostilidades antes mesmo de sentarem. Por coincidência, estavam todos, talvez uns 20, em cadeiras próximas de mim. Alguns à minha frente, outros do lado, outros atrás. Alguns mais silenciosos me dirigiram olhares de ódio ou risos debochados, outros lançavam ofensas.
— Terrorista, terrorista — gritaram alguns.
Pensei na ironia. Foi “terrorista” a palavra com que fui recebida em um quartel do Exército, aos 19 anos, durante minha prisão na ditadura. Tantas décadas depois, em plena democracia, a mesma palavra era lançada contra mim.
Uma comissária, a única mulher na tripulação, veio, abaixou-se e falou:
— O comandante te convida a sentar na frente.
— Diga ao comandante que eu comprei a 15C e é aqui que eu vou ficar — respondi.
O avião já estava atrasado àquela altura. Os gritos, slogans, cantorias continuavam, diante de uma tripulação inerte, que nada fazia para restabelecer a ordem a bordo em respeito aos passageiros. Os petistas pareciam estar numa manifestação. Minutos depois, a aeromoça voltou:
— A Polícia Federal está mandando você ir para frente. Disse que se a senhora não for o avião não sai.
— Diga à Polícia Federal que enfrentei a ditadura. Não tenho medo. De nada.
Não vi ninguém da Polícia Federal. Se esteve lá, ficou na porta do avião e não andou pelo corredor, não chegou até a minha cadeira.
Durante todo o voo, os delegados do PT me ofenderam, mostrando uma visão totalmente distorcida do meu trabalho. Certamente não o acompanham. Não sou inimiga do partido, não torci pela crise, alertei que ela ocorreria pelos erros que estavam sendo cometidos. Quando os governos do PT acertaram, fiz avaliações positivas e há vários registros disso.
Durante o voo foram muitas as ofensas, e, nos momentos de maior tensão, alguns levantavam o celular esperando a reação que eu não tive. Houve um gesto de tão baixo nível que prefiro nem relatar aqui. Calculavam que eu perderia o autocontrole. Não filmei porque isso seria visto como provocação. Permaneci em silêncio. Alguns, ao andarem no corredor, empurravam minha cadeira, entre outras grosserias. Ameaçaram atacar fisicamente a emissora, mostrando desconhecimento histórico mínimo: “quando eles mataram Getúlio o povo foi lá e quebrou a Globo”, berrou um deles. Ela foi fundada onze anos depois do suicídio de Vargas.
O piloto nada disse ou fez para restabelecer a paz a bordo. Nem mesmo um pedido de silêncio pelo serviço de som. Ele é a autoridade dentro do avião, mas não a exerceu. A viagem transcorreu em clima de comício, e, em meio a refrões, pousamos no Santos Dumont. A Avianca não me deu — nem aos demais passageiros — qualquer explicação sobre sua inusitada leniência e flagrante desrespeito às regras de segurança em voo. Alguns dos delegados do PT estavam bem exaltados. Quando me levantei, um deles, no corredor, me apontou o dedo xingando em altos brados. Passei entre eles no saguão do aeroporto debaixo do coro ofensivo.
Não acho que o PT é isso, mas repito que os protagonistas desse ataque de ódio eram profissionais do partido. Lula citou, mais de uma vez, meu nome em comícios ou reuniões partidárias. Como fez nesse último fim de semana. É um erro. Não devo ser alvo do partido, nem do seu líder. Sou apenas uma jornalista e continuarei fazendo meu trabalho."

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