O Urso e a indignação dos privilégios aos ricos e famosos
Você conhece o site Pergunte ao Urso? Eu conheço e sou fã. Até recebo as newletters dele. Olha só o que recebi há pouco tempo em minha caixa de e-mail: Ah! Antes de mais nada, quero dizer que vou reproduzir aqui por acreditar em tudo o que fora dito pelo amigo Manoel Vitorino (acho que é esse o nome dele), administrador do Site. Até ia mesmo postar algo a respeito do Hospital Sírio Libanês, a grife da saúde, escolhida por famosos endinheirados...
Tá aí, gente (sem mágoa dos fãs de Leonardo ou do seu filho)...
“Leonardo
é Leonardo e você é só você
Na
semana que passou a mídia passou a nos ofertar a cobertura de um fato que mudou
o mundo: o acidente automobilístico de Pedro, filho do cantor Leonardo, aquele
mesmo que antes cantava em dupla com irmão e que fez muito sucesso com dezenas
de músicas, a maior parte nos anos 90.
Não
sou muito bom de contas, mas pelo que contei por alto, Leonardo vendeu mais de
30 milhões de discos, acredito ser um dos recordistas de vendagem no Brasil.
Nada mal para alguém que saiu de uma pequena cidade chamada Goianápolis (cerca
de dez mil habitantes) no estado de Goiás, onde plantava tomates com a família.
Muito
bem, mas o que é que você tem a ver com isso? É exatamente esse o ponto que
quero abrir para debate. O que eu, você e o mundo têm a ver com o sucesso do
excelente cantor de música sertaneja?
Só
posso falar por mim, e afirmo: nada. Mesmo escutando suas músicas, nunca
comprei um disco, fui a um show ou tive qualquer tipo de contribuição na vida
de Leonardo. O contrário também é recíproco. Em nenhum momento criei algum tipo
de dívida ou deixei qualquer pendência com o cantor.
Transferência
para hospital “referência”
Na
última quinta-feira ou quarta-feira, não me recordo bem, um fato que passou
batido para a maior parte da população me chamou a atenção. Ao que me consta, o
rapaz acidentado precisou ser transferido para um hospital em São Paulo, o
Sírio-Libanês foi escolhido.
Noto
que ser internado no Sírio-Libanês vem se tornando uma espécie de grife na
saúde, grandes políticos e personalidades vão para lá em caso de necessidade de
tratamento, apesar de São Paulo abrigar outros grandes hospitais de qualidade
similar como o H-cor e o Albert Einstein.
Localização
e vias de acesso
O
Sírio fica próximo ao centro da cidade, assim como o H-cor, já o Einstein fica
no bairro do Morumbi, na zona sul, onde também fica o aeroporto de Congonhas,
onde Pedro desembarcou. A distância para os dois hospitais é praticamente a
mesma, cerca de 12 quilômetros.
As
vias de acesso é que mudam muito, o caminho Congonhas-Sírio passa pela avenida
23 de Maio, uma das maiores e mais movimentadas avenidas de São Paulo (mais de
14 mil carros por hora), responsável pelo tráfego do corredor norte-sul da
cidade. Já Congonhas-Einsten tem a avenida Água Espraiada, uma via mais nova
menos utilizada, com cerca de 7 mil carros por hora em horários de pico.
Apesar
de ter outro hospital do mesmo nível e com o caminho muito mais facilitado, o
Sírio-Libanês foi o escolhido pela família. Ao meu ver, até aí, problema
nenhum, direito de quem decide o que é melhor para os seus.
Quem
pode parar o trânsito de São Paulo?
A
questão que me fez refletir deu-se na transferência de Pedro. Se eu, você e
qualquer outra pessoa que não o prefeito, o governador, o presidente da
república ou outro chefe de estado, precisássemos de uma transferência,
fatalmente aguardaríamos uma ambulância e enfrentaríamos o trânsito caótico da
cidade.
O
trânsito, até o momento, era indiferente às nossas necessidades, não
interessava quem, rico ou pobre, bonito ou feio, todos nessa cidade maluca,
precisavam lidar com ele.
Algo
mudou. Não para nós.
Em
horário normal, a avenida 23 de Maio foi interditada para que Pedro chegasse ao
hospital, se não me engano batedores da polícia acompanharam a transferência.
Tratamento digno, impecável, distinto e também imoral, antiético, surreal e
irresponsável.
Privilégio
e igualdade
Ao
ter tratamento diferenciado, sem que tivesse feito algo que o justificasse,
simplesmente por ser filho de quem é, Pedro contou com uma prerrogativa que o
diferenciou dos demais, lhe deu uma oportunidade que é negada para quase todos
que precisam de socorro. O nome disso é privilégio!
Também
na mesma semana foi aprovado, pelo STF, a política de cotas raciais para
universidades públicas, algo para corrigir supostos privilégios que foram dados
por distorções sociais que ocorreram.
Embora
as duas situações não estejam diretamente relacionadas, achei interessante a
luta do poder judiciário para promover uma sociedade mais justa enquanto outras
injustiças passam na televisão e nenhum promotor toma providência.
Se
você é fã do Leonardo não perca seu tempo me atacando no espaço de comentários
do blog, o que estou escrevendo não é pessoal, um ataque a ele. Sou favorável a
igualdade. Há um ditado que gosto de usar que ilustra bem o problema: “pau que
bate em Chico, também deve bater em Francisco”.
Imagino
que quem já precisou transportar alguém em uma ambulância ou chegar ao hospital
em seu carro deve entender o ponto que estou tocando. Por que alguém merece
mais chances do que as demais? É essa a sociedade que desejamos construir?
Certa
vez fui multado por colocar o carro em cima da faixa de pedestres para dar
espaço para uma ambulância passar. Fico pensando no que aconteceria comigo por
fazer algo parecido e no tamanho do problema que me meteria para tentar salvar
a vida de alguém que gosto.”
Fonte: http://www.pergunteaourso.com.br/cotidiano-carreira/leonardo-e-leonardo-e-voce-e-so-voce/, acesso em 01 de maio de 2012, às 16h26.
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