Por que o Brasil continuará sendo um país corrupto?
Porque já as eleições dos “nossos” representantes são realizadas de modo a
institucionalizar o crime, pois os grupos econômicos, ao patrocinarem a eleição
de Presidente, Governadores, Prefeitos etc., assim o fazem, como é natural, sob
a condição de obterem financiamentos graciosos, participarem de licitações
premiadas, privatizarem o espaço público, multiplicando lucros;
Porque num tal contexto, a política passa a constituir extraordinário atrativo
para criminosos profissionais, em geral burocratas medíocres, desqualificados
moral e tecnicamente, sem perspectiva fora da política;
Porque certos partidos políticos passam a funcionar, assim, como autênticas
quadrilhas, cujos membros seguem a lógica do quem dá mais, por isso que trocam
de legenda constantemente, impunemente;
Porque o sistema representativo é um engodo que conta com a participação do
próprio eleitor, que não raro exige, em troca do voto, algum proveito, de modo
que o voto constitui, por isso, apenas um expediente para legitimar e perpetuar
o crime, afinal os eleitos não representam o eleitorado, mas os seus próprios
interesses e os interesses dos grupos econômicos que os
patrocinam;
Porque, apesar das fraudes, insistimos em perpetuar determinados criminosos no
poder, e a tudo assistimos passivamente;
Porque a Polícia, que deveria, junto ao Ministério Público, formar instituição
única, está subordinada ao Poder Executivo, de sorte que são prováveis
investigados (Governadores, Prefeitos etc.) que em última análise comandam as
investigações;
Porque criminosos políticos estão protegidos por um sem número de privilégios
(foro privilegiado, imunidades parlamentares etc.) que os tornam grandemente
imunes às investigações;
Porque a corrupção política traduz a nossa própria hipocrisia, a nossa
indiferença, a nossa tendência ao jeitinho; afinal, corrupção é de algum modo
interação/acordo entre corruptor e corrompido, entre eleitor e eleito;
Porque somos obrigados a votar, quando votar é um direito e não um dever, pois
o eleitor tem, há de ter, a liberdade de votar em quem quiser, quando e se
quiser, consciente e livremente;
Porque a democracia, essa desgastada metáfora, é uma palavra que remete a
múltiplas relações de poder que nada têm de democráticas, relações
freqüentemente de violência e tirania e permanentemente em mutação (Michel
Foucault);
Porque punir criminosos, embora necessário, não é o mais importante; o mais importante
consiste em identificar as estruturas de poder que possibilitam o crime e
mudá-las radicalmente, pois problemas estruturais demandam intervenções também
estruturais e não apenas intervenções sobre indivíduos;
Porque insistimos em preservar instituições absolutamente desnecessárias:
Senado Federal, Câmara Distrital etc;
Porque, em vez de enfrentar os problemas em suas causas, em suas raízes,
tentamos combatê-las em suas conseqüências, tardia, burocrática e
simbolicamente; e isso equivale a não combatê-las;
Porque temos um Estado excessivamente burocrático, que tudo pretende resolver
por meio de leis, demagogicamente;
Porque multiplicar leis não significa evitar novos crimes, mas multiplicar
novas violações à lei (Beccaria); e as leis
desnecessárias enfraquecem as leis necessárias (Montesquieu);
Porque mais leis, mais juizes/tribunais, mais
conselhos, mais prisões etc, pode significar
mais presos, mas não necessariamente menos delitos (Jeffery);
Porque o povo brasileiro acredita ser livre, mas está enganado: é livre apenas
durante as eleições dos membros do Executivo e do Parlamento, pois, eleitos os
seus membros, ele volta à escravidão, é um nada (Rousseau); é que a
participação popular se limita ao sufrágio a cada quatro anos; mas eleitos
“seus” representantes, não se tem qualquer controle sobre seus atos, e o
cidadão, convertido em objeto e não sujeito da política, só poderá expressar
sua indignação nas eleições seguintes;
O Brasil é e continuará sendo um país corrupto simplesmente porque está
estruturado para sê-lo!
Fonte: Site Paulo Queiroz
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