As cruzes na estrada




Quando eu era pequeno, nas viagens em Toyotas ou Kombis superlotadas, do Recife, onde eu morava, a caminho de Carpina, para passar as férias de fim de ano, ficava comovido a observar as cruzes na beira da estrada. Ficava imaginando, no auge de minha infância:
 - "Será que permitiriam as autoridades o sepultamento de pessoas na beira da estrada? Será que essas cruzes são da época em que os cemitérios ainda não existiam?" - Pura inocência!
Hoje sei que as cruzes mais expressam o sentimento de famílias que perderam algum ente querido. Famílias católicas, espíritas e demais famílias, aquelas que consideram o simbolismo religioso como forma de devoção. Mas depois de adulto,  dirigindo pelas mesmas estradas, que passei quando criança, as cruzes têm para mim um outro significado. Significado que muitas pessoas nem consideram:
 - Sim. As cruzes representam morte.
Claro!
A morte de gente que, passando pelo mesmo trecho que hoje eu passo, por ocasião de imprudência, falhas e irresponsabilidades de terceiros ou falhas que fatalmente as próprias vítimas cometeram, vieram a falecer. Ali mesmo ou nos hospitais. Será que as tais cruzes não seriam também avisos que, somadas a sinalização vertical, horizontal, ao conhecimento do código de trânsito, das normas de direçãao defensiva, conspiram para a antecipação de cuidados que seriam capazes de salvar vidas? - Não sei vocês, mas quanto a mim, a cada cruz que vejo na beira da estrada, aumenta a cautela e a atenção que eu tenho quando dirijo. Em tempos de mortes cada vez mais frequentes no trânsito e em meio a tanta gente conhecida que se vai, sem tempo de se despedir de ninguém, cabe a cada um de nós cuidarmos para que não sejamos nós ás próximas vítimas. Lembremos que, culpar a Deus por algo que acontece, além de ser em vão, pode ser uma atitude injusta, quando antes de cada curva, antes de cada "ponto cego" da estrada, faixas contínuas, sinalizações horizontais e cruzes na beira da rodovia nos avisam que o perigo está logo adiante. É claro que estamos também a mercê de loucos do asfalto, que fazem de carros e motocicletas verdadeiras armas de destruição coletiva. Estradas mal conservadas, curvas sinuosas sugerem que todo o cuidado é insuficiente. Mas é bem verdade  aquela máxima de que, se cada um fizer a sua parte...poderemos mudar, ao menos o nosso mundo interior e preservar a nossa própria existência...ao menos por mais algum tempo.


falei!!!

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