O abuso da palavra "GOLPE!"





Nada é tão grave para o amadurecimento político de uma nação quanto o abuso de algumas palavras. É o caso de termos como “genocídio”, “totalitarismo”, “fascismo” – e também “golpe”. Chamar de “golpe” a articulação política pelo impeachment, as investigações da Operação Lava Jato ou as manifestações de protesto contra o governo não é apenas um abuso. É um desrespeito à história. É uma afronta à memória de todos aqueles que morreram ao enfrentar um golpe de verdade, dos que combateram a ditadura, o assassinato e a tortura de presos políticos, defenderam a liberdade de expressão, associação e manifestação. É um acinte, enfim, àqueles que lutaram pela democracia – entre eles os próprios Dilma e Lula.

Vivemos numa democracia ainda jovem. Nossa Constituição ainda não tem 40 anos. Nossas instituições são imperfeitas e falham com frequência. Mas é uma tranquilidade – Dilma e Lula deveriam saber disso muito bem – poder contar com o devido processo legal e o amplo direito de defesa. É uma tranquilidade poder viver sem ter medo de expressar opiniões, quaisquer que elas sejam. O Poder Judiciário pode errar, mas é independente. A imprensa pode errar, mas é livre. Os partidos e movimentos sociais podem incomodar, mas têm direito de se manifestar.

Não, não haverá golpe, por mais que Dilma e Lula insistam em posar de vítimas de uma conspiração. Haverá apenas julgamento, e os culpados serão punidos. Dentro das regras da democracia brasileira – ainda jovem, frequentemente imperfeita, mas sempre essencial. Golpe, para repetir as palavras de Macri, nunca mais.

Por Hélio Gurovitz do G1

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