A morte


Cessação da vida, das funções vitais, da atividade elétrica no cérebro, sono eterno, desencarne, descanso da alma. Várias têm sido as definições legais para a morte, do ponto de vista científico e religioso, principalmente. Agora, analisemos a morte do ponto de vista psicológico, para quem fica.

Nos primeiros instantes, dada a notícia do fato ocorrido, um misto de desespero, tristeza, desalento. Tais sentimentos podem perdurar por dias, semanas, meses a fio, acompanhados de uma imensa saudade daqueles que fizeram parte de nossa história, daqueles que de alguma forma contribuíram para  o nosso crescimento moral, espiritual e social. Aquelas pessoas que em vida, nos proporcionaram momentos ímpares de alegria, sorrisos e festa. E agora? Não nos veremos mais? Não nos falaremos mais? A natureza, Deus ou os dois juntos foram sábios para fazer-nos pessoas especiais, inigualáveis, inesquecíveis, únicas. Isso explica por que, nos convívios sociais, familiares em nosso ciclo de amizade, existem e sempre haverá pessoas insubstituíveis! Como lidar com a falta dessas pessoas maravilhosas? Mergulhemo-nos na esperança de que um dia, quem sabe, encontremos as mesmas pessoas, em corpos restaurados para juntos vivermos para sempre? Esperemos talvez que tais pessoas continuem a perambular pelas ruas de nossa cidade, nos visitem um dia qualquer, para nos  contar como se deu a sua chegada ao mundo dos espíritos? Esses são apenas alguns argumentos religiosos, que tentam acalentar a nossa consciência e nos dar um pouco mais de tranquilidade. Meu respeito a todos os porta-vozes das religiões, sejam elas quais forem. Agora, em minha opinião, haveria um ponto de equilíbrio entre a saudade que faz sofrer e aquela que nos faz pararmos um pouco e analisarmos a importância de pessoas, quando em vida, para a nossa existência. Utilizo uma forma simples, que a mim se aplica: Utilizemos as boas lembranças dos que se foram, os seus exemplos de vida, os momentos bons ao nosso lado e sejamos gratos. Afinal, a vida por aqui não é fácil, e tais pessoas viveram um pouco em nossa função. Àqueles que se foram e não deixaram boas recordações, que ao menos tenhamos os tais em nossa memória como símbolos de maus exemplos, aprendizado sobre o que devemos ou não devemos defender em nossa breve existência. Morte... Uma das  únicas certeza que temos em nossa vida. Quando chegar a hora, que possamos deixar saudades. Boas recordações, bons exemplos.
Cultura
Raul Seixas sobre a morte


 

Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar
Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque,
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?
Vou te encontrar Vestida de cetim
Pois em qualquer lugar
Esperas só por mim
E no teu beijo
Provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo
Mas tenho que encontrar
Vem Mas demore a chegar
Eu te detesto e amo
Morte, morte, morte que talvez
Seja o segredo desta vida
Qual será a forma da minha morte
Uma das tantas coisas que eu nao escolhi na vida
Existem tantas... um acidente de carro
O coração que se recusa a bater no próximo minuto
A anestesia mal-aplicada
A vida mal-vivida
A ferida mal curada
A dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido
Ou até, quem sabe,
O escorregão idiota num dia de sol
A cabeça no meio-fio Ó morte, tu que és tão forte
Que matas o gato, o rato e o homem
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres
Me buscar
Que meu corpo seja cremado
E que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem
Nos meus filhos
Na palavra rude que eu disse para alguém
Que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber / Aquela noite..

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