A origem do Carnaval
Quadro de Johannes Lingelbach (1622-1674), Carnaval em Roma, exemplo de um carnaval da Commedia Dell'arte |
Ilustração medieval simbolizando um carnaval do período |
O carnaval é a festa popular mais celebrada no Brasil e que, ao longo
do tempo, tornou-se elemento da cultura nacional. Porém, o carnaval não é uma
invenção brasileira nem tampouco realizado apenas neste país. A História do
Carnaval remonta à Antiguidade, tanto na Mesopotâmia quanto na Grécia e em Roma.
A palavra carnaval é originária do latim, carnis levale, cujo
significado é retirar a carne. O significado está relacionado com o jejum que
deveria ser realizado durante a quaresma e também com o controle dos prazeres
mundanos. Isso demonstra uma tentativa da Igreja Católica de enquadrar uma
festa pagã.
Na antiga Babilônia, duas festas possivelmente originaram o que
conhecemos como carnaval. As Saceias eram uma festa em que um prisioneiro
assumia durante alguns dias a figura do rei, vestindo-se como ele,
alimentando-se da mesma forma e dormindo com suas esposas. Ao final, o
prisioneiro era chicoteado e depois enforcado ou empalado.
O outro rito era realizado pelo rei nos dias que antecediam o
equinócio da primavera, período de comemoração do ano novo na região. O ritual
ocorria no templo de Marduk, um dos primeiros deuses mesopotâmicos, onde o rei
perdia seus emblemas de poder e era surrado na frente da estátua de Marduk.
Essa humilhação servia para demonstrar a submissão do rei à divindade. Em seguida,
ele novamente assumia o trono.
O que havia de comum nas duas festas e que está ligado ao carnaval era
o caráter de subversão de papéis sociais: a transformação temporária do
prisioneiro em rei e a humilhação do rei frente ao deus. Possivelmente a subversão
de papeis sociais no carnaval, como os homens vestirem-se de mulheres e
vice-versa, pode encontrar suas origens nessa tradição mesopotâmica.
As associações entre o carnaval e as orgias podem ainda se relacionar
às festas de origem greco-romana, como os bacanais (festas dionisíacas, para os
gregos). Seriam festas dedicadas ao deus do vinho, Baco (ou Dionísio, para os
gregos), marcadas pela embriaguez e pela entrega aos prazeres da carne.
Havia ainda em Roma as Saturnálias e as Lupercálias. As primeiras
ocorriam no solstício de inverno, em dezembro, e as segundas, em fevereiro, que
seria o mês das divindades infernais, mas também das purificações. Tais festas
duravam dias com comidas, bebidas e danças. Os papeis sociais também eram
invertidos temporariamente, com os escravos colocando-se nos locais de seus
senhores, e estes colocando-se no papel de escravos.
Mas tais festas eram pagãs. Com o fortalecimento de seu poder, a
Igreja não via com bons olhos as festas. Nessa concepção do cristianismo, havia
a crítica da inversão das posições sociais, pois, para a Igreja, ao inverter os
papéis de cada um na sociedade, invertia-se também a relação entre Deus e o
demônio.
A Igreja Católica buscou então enquadrar tais comemorações. A partir
do século VIII, com a criação da quaresma, tais festas passaram a ser
realizadas nos dias anteriores ao período religioso. A Igreja pretendia, dessa
forma, manter uma data para as pessoas cometerem seus excessos, antes do
período da severidade religiosa.
Durante os carnavais medievais por volta do século XI, no período
fértil para a agricultura, homens jovens que se fantasiavam de mulheres saíam
nas ruas e campos durante algumas noites. Diziam-se habitantes da fronteira do
mundo dos vivos e dos mortos e invadiam os domicílios, com a aceitação dos que
lá habitavam, fartando-se com comidas e bebidas, e também com os beijos das
jovens das casas.
Durante o Renascimento, nas cidades italianas, surgia a commedia
dell'arte, teatros improvisados cuja popularidade ocorreu até o século XVIII.
Em Florença, canções foram criadas para acompanhar os desfiles, que contavam
ainda com carros decorados, os trionfi. Em Roma e Veneza, os participantes
usavam a bauta, uma capa com capuz negro que encobria ombros e cabeça, além de
chapéus de três pontas e uma máscara branca.
A história do carnaval no Brasil iniciou-se no período colonial. Uma
das primeiras manifestações carnavalescas foi o entrudo, uma festa de origem
portuguesa que na colônia era praticada pelos escravos. Depois surgiram os
cordões e ranchos, as festas de salão, os corsos e as escolas de samba. Afoxés,
frevos e maracatus também passaram a fazer parte da tradição cultural
carnavalesca brasileira. Marchinhas, sambas e outros gêneros musicais também
foram incorporados à maior manifestação cultural do Brasil.
Fonte: Brasil Escola
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