Como o HSBC 'ajudou' milionários a sonegar impostos
O banco britânico HSBC "ajudou" clientes
ricos a evitar o pagamento de milhões de dólares em impostos por meio de sua
filial na Suíça.
O programa de TV Panorama, da BBC, teve acesso a
informações sobre contas de 106 mil clientes em 203 países vazadas em 2007 por
um ex-funcionário do banco em Genebra, Herve Falciani.
O HSBC disse ser "responsável por falha de
controle no passado" e que clientes se aproveitaram do sigilo bancário
para manter contas não declaradas, mas afirmou ter mudado suas práticas e estar
colaborando com as autoridades.
"Reconhecemos que os padrões e cultura de
diligência no banco privado suíço do HSBC, assim como na indústria como um
todo, eram significantemente mais baixos do que hoje", a instituição
acrescentou.
O banco agora é alvo de investigações nos Estados
Unidos, na França, na Bélgica e na Argentina.
Mas nenhuma medida foi tomada até agora contra o
banco no Reino Unido, onde está sua sede.
Manter contas em outros países não é ilegal, mas
muitas pessoas as usam para esconder dinheiro das autoridades fiscais de seus
países.
E, apesar de existirem formas legais para se pagar
menos impostos, é ilegal esconder dinheiro para sonegar impostos.
Segundo as acusações, o banco não somente fez vista
grossa para a evasão de impostos como também ajudou ativamente alguns clientes
a violarem a lei.
Quando foram introduzidas novas leis na Europa em
2005 obrigando bancos suíços a recolher impostos de contas não declaradas e
repassá-los às respectivas autoridades fiscais, o banco escreveu aos clientes
oferecendo formas de contornar os tributos.
Em um caso mostrado no Panorama, o HSBC deu a uma
família abastada um cartão de crédito internacional para fazer saques de
dinheiro não declarados em caixas automáticos no exterior.
O HSBC nega que os donos das contas listadas
estavam evadindo impostos, mas autoridades francesas concluíram em 2013 que
99,8% de seus cidadãos na lista vazada provavelmente praticavam evasão fiscal.
Richard Brooks, ex-inspetor fiscal e autor de The
Great Tax Robbery, disse: "Acredito que o banco tenha oferecido serviços
de evasão fiscal. Eles sabiam muito bem que as pessoas os procuravam para
evitar o pagamento de impostos".
Lista traz 106 mil clientes de 203 países
com contas não declaradas no HSBC na Suíça
As milhares de páginas de dados foram obtidas pelo
jornal francês Le Monde. Em uma investigação conjunta, os documentos foram
repassados para o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ,
na sigla em inglês), ao jornal The Guardian, ao Panorama da BBC e a mais de 45
veículos de mídia ao redor do mundo.
Estes documentos incluem dados sobre 5.549 contas
secretas de brasileiros, entre pessoas físicas e jurídicas, com um saldo total
US$ 7 bilhões (R$ 19,5 bilhões).
O HM Revenue and Customs, departamento
governamental do Reino Unido equivalente à Receita Federal, recebeu os dados em
2010 e identificou 7 mil clientes britânicos que não pagaram impostos. Mas,
quase cinco anos depois, apenas um deles foi processado.
Segundo o departamento, cerca de 135 milhões de
libras (R$ 540 milhões) foram pagos até o momento em impostos, juros e multas
por aqueles que esconderam dinheiro na Suíça.
O executivo que chefiava o banco na época do
esquema, Stephen Green, foi nomeado secretário para Comércio e Investimento do
Reino Unido oito meses depois de o departamento do governo britânico ter
recebido os documentos vazados e ficou nesta função até 2013.
"Por princípio, não comentarei sobre o passado
do HSBC", ele disse ao BBC Panorama.
'Personalidades renomadas'
Na Argentina, a Administração Federal de Receitas
Públicas (AFIP, na sigla em espanhol) denunciou a filial local do HSBC em
novembro de 2014 por supostamente ajudar 4.040 cidadãos do país a evadir
impostos.
A informação foi obtida pelo governo argentino por
meio de um acordo de colaboração com a França.
O diretor da AFIP, Ricardo Echegaray, disse na
época que entre os suspeitos havia "personalidades renomadas", mas
não revelou suas identidades.
Entre os supostos beneficiados pela ajuda do HSBC
suíço a clientes de mais de 200 países estão políticos, empresários, estrelas
do esporte, celebridades, além de criminosos e traficantes, segundo a
investigação.
O ICIJ diz que o banco tirou proveito de
negociações com "comerciantes de armas..., assistentes de ditadores do
Terceiro Mundo, traficantes de diamantes de sangue e outros delinquentes
internacionais".
Segundo analistas, as recentes revelações
certamente multiplicarão os pedidos por maior controle dos sofisticados
esquemas usados por milionários e empresas multinacionais para evadir impostos.
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