Um ano depois: o que sobrou da Copa
Quando
a construção e reforma de 12 estádios espalhados pelo Brasil foi anunciada, a
justificativa era de que modernizariam o futebol brasileiro e atrairiam mais
torcedores para os campeonatos regionais.
As
novas arenas – que, de fato, são modernas – custaram cerca de 8,4 bilhões de
reais, 184% a mais do que o estimado inicialmente. Apesar dos enormes
investimentos, a maioria dos estádios só viu futebol e arquibancadas lotadas na
Copa mesmo.
Para
a população brasileira, no entanto, a maior expectativa que se criou com a
vinda da Copa do Mundo para o país foi a do legado que seria deixado. As
principais promessas eram novos e mais modernos aeroportos e soluções para o
caos que é o transporte público nas grandes cidades.
Das
82 obras que foram inicialmente propostas na Matriz de Responsabilidades da Copa,
apenas 20 foram concluídas e entregues para a população. Segundo cálculo do
jornal Folha de S. Paulo, 2,5 milhões de pessoas ficaram sem as novidades
prometidas.
Veja
nos slides a seguir, o que ficou de legado para o Brasil um ano depois da Copa.
Estádios milionários vazios
Em
pelo menos quatro estádios, a alcunha de elefantes brancos já estava
predestinada antes mesmo do início da construção. Isto porque Natal, Manaus,
Cuiabá e Brasília não têm um campeonato de futebol forte o suficiente para
atrair torcedores para os mais de 40 mil lugares disponíveis nas arquibancadas.
Hoje,
estas caríssimas arenas recebem de festas de crianças a encontros corporativos.
Em
Natal, por exemplo, a Arena das Dunas, recebeu apenas 63 partidas de futebol
desde o final da Copa do Mundo, com média de público de 9 mil torcedores. No
mundial, nos quatro jogos que o estádio recebeu, 159 mil pessoas ocuparam suas
arquibancadas.
Atualmente,
a administração da Arena afirma que o local está preparado para receber de um
jantar a dois até um show para 45 mil pessoas.
Em
Cuiabá, a situação é ainda pior. A Arena Pantanal, que custou R$ 626 milhões
para ser construída, hoje está abandonada.
Cadeiras vazias e prejuízos
Além
disso, a conta para manter em funcionamento um estádio de padrão Fifa é multo
alta – custo este que é repassado aos clubes que tentam levar suas partidas
para lá.
A
Arena Pernambuco, em Recife, recebe em média quatro partidas por mês. O estádio
tem um contrato para receber todos os jogos do Náutico, assim como uma série de
partidas do Sport e do Santa Cruz.
Mesmo
assim, a conta não fecha e a Arena acumula prejuízo de R$ 54,1 milhões desde
que entrou em operação.
Mesmo
para grandes clubes fica difícil bancar a conta. O Maracanã, por exemplo, palco
da grande final da Copa, registrou prejuízo de R$ 77,2 milhões em 2014.
A
conta não fecha porque é preciso que a casa fique cheia de torcedores. O
estádio recebeu 65 jogos desde o final da Copa, mas a média de público ficou em
26,2 mil torcedores. Isso significa que o público ocupa em média um terço dos
lugares disponíveis.
Em
compensação, o estádio já recebeu mais de cem eventos desde a reabertura após a
Copa. Entre eles, festas de aniversários, casamentos, bar mitzvah e até
piqueniques.
As obras que nunca ficaram prontas
Na
época da Copa, muito se criticou o fato de as obras de mobilidade urbana - as
mais aguardadas e as que poderiam de fato ter impacto na vida dos brasileiros -
não terem ficado prontas a tempo. Um ano depois, pouca coisa mudou.
Na
Matriz de Responsabilidades havia 44 obras previstas. Destas, 20 ainda não
ficaram prontas. Há cidades que não concluíram sequer uma obra. É o caso de
Cuiabá e Fortaleza, que tinham três e seis projetos previstos, respectivamente.
Por
outro lado, Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre
entregaram tudo o que estava previsto.
2,5 milhões de pessoas ficaram sem o transporte prometido
A
primeira Matriz de Responsabilidades para a Copa tinha 82 projetos. Mais da
metade, no entanto, foi retirada por não ter condições de ser concluída a tempo
do mundial.
O
monotrilho que ligará o aeroporto de Congonhas à estação Morumbi de trem, em
São Paulo, foi um desses casos. A obra, que é de responsabilidade do governo
estadual, ainda não foi entregue.
Segundo
levantamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo, o número de brasileiros que
foram afetados pelas obras prometidas e não concluídas chega a 2,5 milhões.
Entre
as obras previstas, estavam soluções mais simples como os BRTs (transporte
rápido por ônibus, na sigla em inglês), e outras de maior capacidade de
transporte de passgeiros, como os VLTs (veículo leve sobre trilho) e os monotrilhos.
Durante
a Copa, para que os torcedores não tivessem que lidar com o transporte
superlotado, foram colocados em ação planos alternativos. Muitas cidades
tiveram feriados decretados e linhas especiais foram postas em circulação.
Pior que o 7x1
Antes
fosse só a imagem do futebol brasileiro pós sete a um que tivesse sido afetada
pela Copa do Mundo de 2014.
Se
durante o torneio a imprensa internacional foi só elogios para a organização,
agora, faz questão de mostrar todo o legado negativo que o mundial deixou no
país.
É
verdade que a visão do brasileiro como povo simpático e festeiro não foi
abalada. Pelo contrário, deste ponto de vista, a moral do país só ganhou pontos
com os estrangeiros. Apesar da expectativa negativa, tudo funcionou bem e se
chegou a dizer que o torneio foi a melhor Copa de todos os tempos.
No
entanto, os enormes gastos do governo, o atraso na entrega das obras e o alto
custo para a população continuam chamando a atenção da imprensa estrangeira.
No
mês passado, a rádio pública americana NPR disse que, embora a festa da Copa
tenha acabado faz tempo, o Brasil ainda está lidando com uma ressaca em forma de
estádios elefantes brancos e obras de infraestrutura inacabadas.
Tudo
isso ao mesmo tempo em que o país lida com escândalos de corrupção, ajuste
fiscal e se prepara para receber os Jogos Olímpicos no ano que vem.
Fonte: Revista Exame
Comentários
Postar um comentário