Igreja Universal pode ter de pagar 300 mil a soropositivo
A Igreja Universal do
Reino de Deus foi condenada a indenizar em R$ 300 mil um portador do vírus HIV
que abandonou o tratamento contra a AIDS e deixou de usar preservativo, o que
provocou a infecção de sua mulher, por orientação da instituição. A decisão foi
tomada de forma unânime pela 9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul, em julgamento realizado no final do mês passado em Porto
Alegre.
De acordo com os autos do processo, o autor da ação deixou de usar medicamentos
contra a AIDS em 2009, por orientação da instituição. Poucos meses depois, foi
internado com broncopneumonia, devido à queda do sistema imunológico provocada
pela doença. Ele ficou hospitalizado durante 77 dias, 40 sob coma induzido, e
perdeu 50% do peso.
Condenada em primeira instância a indenizar o paciente em R$ 35 mil, a igreja
recorreu pedindo a nulidade da sentença devido a "ausência de
imparcialidade por convicções religiosas" da juíza Rosane Wanner da Silva Bordasch, responsável pela
sentença. O autor também ingressou com recurso, pedindo o aumento do
valor.
Os desembargadores negaram a reversão da sentença e majoraram a pena em 760%,
devido aos danos causados à saúde do autor e à dimensão de "potência econômica"
da Igreja Universal.
Entre as provas citadas nos autos dos processos, estão declarações de um bispo
da igreja publicadas na internet sobre falsas curas da AIDS, testemunho de
ex-bispo que diz ter doado "tudo o que tinha" para obter a cura da
filha e material divulgado pela imprensa sobre suposta "coação moral"
cometida pela Universal.
"Apesar de inexistir prova explícita acerca da orientação recebida pelo
autor no sentido de abandonar sua medicação e confiar apenas na intervenção
divina, tenho que o contexto probatório nos autos é suficiente para convencer
da absoluta verossimilhança da versão do autor", disse o desembargador
Eugênio Facchini Neto, relator do
apelo.
Igreja
nega orientações
Por meio de nota, a Igreja Universal diz que é uma "mentira" que
tenha orientado o paciente a abandonar os medicamentos. A instituição destaca
que o fiel já era portador do HIV quando foi "acolhido", e garante
que "sempre destaca a importância da rigorosa observância dos tratamentos
médicos".
A igreja também nega ter orientado o homem a deixar de usar preservativos, e
lembra que realizou uma campanha para distribuir camisinhas na África, com
objetivo de evitar a propagação da AIDS. A nota ressalta que a instituição foi
absolvida em um processo semelhante na Justiça gaúcha, e recorrerá nas
instâncias cabíveis.
Fonte: G1,
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